sexta-feira, 12 de março de 2021

Respeito

Vai ter mulher descendo até o chão sim

Dançando funk, axé ou samba... ballet até, quem sabe?

E não importa se ela é deputada, ministra, advogada, bancária, manicure ou diarista, o que ela dança fora do horário de trabalho dela não é da sua conta.

Vai ter mulher lutando pelo direito de vestir o que quiser e te lembrando que não pediu sua opinião, nem sobre a roupa, e muito menos sobre o corpo, que, lembremos, é dela.

E seguiremos exigindo a palavra quando interrompidas, ainda que taxadas de agressivas e colocando nossas opiniões e posicionamentos, mesmo quando os narizes torcidos mostram a importunação que sentem aqueles que se acham mais. Seu incômodo será nosso combustível.

E gritaremos sim, a cada assédio sofrido, que não é normal, que não deve ser relevado ou perdoado, em especial quando nem mesmo admitido, em uma sociedade na qual a falta de respeito está tão naturalizada que nem percebida é mais. E não repitam "se dê ao respeito se quer ser respeitada" que eu desço do salto e grito ainda mais alto até que você entenda que, a menos que eu queira e deixe isso claro, nada sobre meu corpo ou meu comportamento lhe pertence, lhe autoriza ou lhe diz respeito.

E que nos tornemos cada dia mais. Muitas e muitas, nos unindo a cada ofensa, nos dando a mão a cada julgamento, nos apoiando a cada violência, formando e fortalecendo uma corrente que criará um mundo mais justo e prenderá cada homem que ainda nos vê como objetos a serem possuídos (ainda que os prenda dentro de seus próprios mundinhos, já que nem tudo dentro da mentalidade tacanha do machismo é crime).

RESPEITO, só. Não é difícil de entender. E não estamos mais pedindo, mas exigindo.





Nos seus olhos 
Vejo os caminhos do meu coração 
Os trajetos tortuosos da emoção 
Tantos sonhos sonhados em vão
Escolhas que faço sem saber porque
Erros repetidos em você 
Passado que se faz presente
Desejos vividos inutilmente
Futuro que hoje vejo ausente

sábado, 6 de março de 2021

O encontro

 Ele ainda dominava todos os seus pensamentos.

Uma vida havia se passado desde a última vez em que tinham estado frente a frente. Empregos, amigos, namorados... um que virou marido, pai de seus filhos, e, recentemente,  ex-marido. Uma vida... 

Ainda assim, ele aparecia constantemente em seus pensamentos durante toda essa trajetória; invadia seus sonhos de tempos em tempos, aparecia como um ato falho em uma troca eventual de nomes. Ele esteve lá, guardado nos lugares obscuros de sua mente, encontrando, sempre que as barreiras se enfraqueciam, os caminhos para escapar para a superfície.

Até aquele dia.

O encontro, num primeiro momento, a tinha deixado em estado de choque. O coração bateu acelerado, retirando o sangue que circulava nas extremidades do seu corpo, deixando suas mãos geladas. Não conseguiu evitar o pensamento imediato de sair correndo com a velocidade que temos quando somos perseguidos por monstros em nossos pesadelos. Fugir, porém, estava fora de questão. Fora das regras sociais que a obrigavam a sorrir e falar com ele, ao invés de comportar-se como uma louca. Mas, se fugir fosse uma possibilidade, ela teria fugido?

Então, eles estavam agora sentados na mesa da cafeteria mais próxima conversando sobre suas vidas, enquanto ela percebia o poder que ele ainda exercia sobre ela. Falavam sobre amenidades, suas vidas, suas carreiras, suas famílias, mas não demorou muito para que a sondagem sobre seus estados civis se fizesse presente, trazendo a informação de que ambos estavam, no momento, livres. O que isso a fazia sentir?

A presença dele, ali, na sua frente, ainda exercia um efeito intenso. Seus olhos pareciam hipnotizados pelos lábios que falavam com ela, enquanto a conversa fluía corrente e fácil. Seu olhar ainda gerava calafrios que percorriam pela espinha, fazendo-a sentir-se como a menina que ele, um dia, havia conhecido. E ela prestava atenção em todas essas sensações que apareciam em seu corpo, em cada pensamento confuso que invadia sua mente, enquanto ele falava apaixonadamente sobre seu trabalho.

O tempo passou sem que nenhum dos dois se desse conta. Como se não houvesse quase 20 anos desde o termino daquele relacionamento que quase lhe tirou a vontade de viver e lhe exigiu um longo trabalho de reconstrução.

Então era hora da despedida. Eles caminharam até a porta enquanto seu coração se apertava como o de uma criança que reluta para abrir mão de seu cobertor preferido.

- "você quer ir pra algum outro lugar?.. Me dá seu telefone, pra gente se ver de novo..."

Os poucos segundos que se passaram, pareceram horas. Pensamentos acelerados passaram por sua cabeça, enquanto o coração disparava.

E então ela respirou profundamente, deu um beijo em seu rosto antes de olhar em seus olhos, dizer "tchau, Beto", virar-se e ir embora.

Em seu caminho, sorriu, com o coração levemente triste, mas em paz. Ele ainda dominava todos seus pensamentos, mas ela não era mais uma menina, era sua própria dona agora. E algumas histórias de amor pertencem aos recônditos das lembranças do passado. 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

SONHOS

Sonhei um sonho lindo, no qual as dores do passado eram curadas com beijos e sorrisos e onde as peças que um dia se perderam, de repente se ajustavam em seus lugares. 

Nele, os seus olhos eram luz que me guiavam através dos meus medos e inseguranças e suas palavras me faziam acreditar que tudo era possível.

Tentei com todas as minhas forças manter meus pés no chão e não me perder da realidade, mas os sonhos nos dão asas, e quem, podendo alcançar os céus, deseja permanecer no mesmo lugar?

Voei, contra a vontade, para as alturas das possibilidades infinitas e dos amores incondicionais, mas a terra do faz-de-conta há muito ficou na infância, e as ilusões se desfizeram no ar, pra me mostrar que sonhos são apenas isso, sonhos.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

É a minha velha mania de brincar com fogo. 

Quando criança, fósforos e velas estavam entre os passatempos preferidos. Quantas vezes meus dedos passaram pelas chamas apenas para que eu mostrasse a mim mesma que eu podia; apenas para que eu descobrisse quanto tempo minha pela aguantava antes de eu me queimar.

E estou de novo brincando com fogo, desafiando forças sobre as quais não tenho controle e lidando com energias que não compreendo plenamente. Sensações marcadas em meu corpo como tatuagem, que se tornam despertas ao menor toque seu.

Meus sonhos mais loucos não imaginariam este momento. É a vida querendo me dizer algo, ou apenas minha teimosia em me colocar em situações perigosas? 

Não sei responder. Não consigo decidir se isso é bom ou ruim, se devo fugir ou ficar.

Respeito

Vai ter mulher descendo até o chão sim Dançando funk, axé ou samba... ballet até, quem sabe? E não importa se ela é deputada, ministra, advo...